domingo, abril 28, 2024

Alto Minho, artigo de 25-04-2024

#50Anos25Abril



Vocês sabem lá

Por vezes a memória ou o conhecimento são curtos para se saber. Durante esta semana o Arquivo Distrital de Viana do Castelo traz à memória, com uma pequena mostra documental, Manuel Fiúza da Silva Júnior. Nascido em 1888 na freguesia da Ribeira, no concelho de Ponte de Lima, cedo foi viver para a sede do distrito. Aí contactou com os movimentos anárquicos e libertários, colaborando em publicações ligadas a esses movimentos. Já militante do Partido Comunista Português, com a ditadura militar entra na clandestinidade. Detido, pela última vez, pela PIDE em 1957, por “crimes contra a segurança do Estado”, depois de torturas e vários dias de “estátua”, acaba por morrer aos 69 anos na delegação do Porto daquela polícia política. Sim, em ditadura esta era a realidade. 

“Vocês sabem lá / Que tormento é viver sem esperança” 


E depois do adeus

No dia 25 de Abril de 1974 os portugueses, com o Movimento das Forças Armadas (MFA), disseram adeus à ditadura do Estado Novo. Depois desse adeus, da euforia dos primeiros meses, viveram-se tempos conturbados, de ajustes e movimentações de forças e vontades. Nem todos os envolvidos na revolução foram heróis desprendidos como Salgueiro Maia. No ano seguinte, Portugal esteve bem perto de uma guerra civil, a sorte foi termos pessoas da grandiosidade de Ramalho Eanes, Mário Soares e Francisco Sá Carneiro que conseguiram manter o país no caminho da liberdade e da democracia representativa. Foi tempo de nos descobrirmos e de percebermos o caminho que devíamos trilhar enquanto comunidade.

“Quis saber quem sou / O que faço aqui” 


Portugal na CEE

Depois do período revolucionário, a democracia representativa de eleições democráticas prevaleceu. Os anos 80 trouxeram a abertura à Europa da CEE. Se Mário Soares iniciou o processo que parecia difícil de alcançar, Cavaco Silva integrou Portugal na CEE, tornando o nosso país uma referência para as adesões seguintes. A abertura à Europa deu novos horizontes a um país que tinha ficado “pequeno”, fechado sobre si mesmo. 

“Portugal e a CEE / Quanto mais se fala, menos se vê”


Timor

Depois da euforia da bolsa, das empresas, do desenvolvimento, Portugal juntou-se por uma causa, a independência de Timor. Já há muito que não se via a capacidade de união do povo português numa luta unânime, desde as instituições, as instâncias internacionais, aos jovens e sociedade em geral. Cerca de 20 anos depois do 25 de Abril, os portugueses voltaram a unir-se na luta pela liberdade e pela democracia. 

“Ai Timor / Se outros calam / Cantemos nós”


Sem Eira Nem Beira

O início dos anos 2000 trouxe o pântano, a saída de um primeiro ministro para a liderança da Comissão Europeia e, por fim, uma “banca rota”. O que para muitos pareceu uma nova esperança ficou reduzido a uma desilusão que nos levou a passar a depender da ajuda externa para cumprir com as nossa obrigações.

“Ainda espero ver alguém / Assumir que já andou / A roubar, a enganar / O povo que acreditou”


Que parva que sou

O desalento criado pelas condições do acordo com a designada Troika marcou profundamente a sociedade portuguesa. Na década de 10 deste século, o futuro parecia ter fugido. A outrora tão ansiada “Europa” passou a ser vista como o escape para uma nova geração, a tal com a maior formação académica. 

“Porque isto está mal e vai continuar, / já é uma sorte eu poder estagiar. /Que parva que eu sou! / E fico a pensar, / que mundo tão parvo / onde para ser escravo é preciso estudar.”


Vai correr bem

Depois dos ajustes, da coragem de governar para o bem público ao invés das eleições, conseguimos, com muitos sacrifícios, ultrapassar o que parecia impossível. Entretanto enfrentamos uma pandemia global, um sistema político em profunda mutação, uma sociedade inundada de desinformação. 50 anos depois de Abril de 74, o maior desafio é manter a “fome” pela democracia, é promover nos mais jovens a vontade de participar na comunidade, é garantir a possibilidade de discutir, e, simultaneamente, criar pontes entre opiniões diferentes.

“Às vezes as pessoas desiludem / Mas não fiques em casa parado à espera que mudem / Muda tu rapaz / Muda a tua atitude, vais ver que és capaz / E nada te pode parar”


Músicas:

1 - Vocês sabem lá / Maria de Fátima Bravo

2- E depois do adeus / Paulo de Carvalho

3 - Portugal na CEE / GNR

4 - Timor / Luís Represas

5 - Sem eira nem beira / Xutos e Pontapés

6 - Que parva que sou / Deolinda

7 - Vai correr bem / Boss Ac

domingo, abril 21, 2024

Alto Minho, artigo de 18-04-2024


100 anos sem ver passar comboios

No final do século XIX foi construída uma linha de ferro que entrava no concelho de Ponte de Lima pela freguesia de Fontão. Vinha do concelho de Viana do Castelo e teria o seu término na linha que se pretendia construir entre Ponte da Barca e Monção. A construção terminou numa ponte, ainda existente, por cima do rio Labruja, na vila de Arcozelo. Apesar da construção de mais de metade da linha, nunca por lá se viu uma locomotiva. Actualmente, para além da referida ponte, ainda se podem encontrar alguns vestígios da linha em várias freguesias dos concelhos de Viana do Castelo e Ponte de Lima.

No inicio da segunda década deste século, a notícia da passagem do TGV por Ponte de Lima causou estrondo na comunidade. Na altura, Vitor Mendes, o então recém eleito presidente da Câmara, afirmava que "Ponte de Lima é um concelho solidário com o desenvolvimento de Portugal mas não pode ser tão fortemente prejudicado”. O PSD local criticou o projecto, afirmando que as propostas do traçado iriam destruir núcleos urbanos e património ambiental com ausência de benefícios diretos, na altura alertavam para o risco de a proposta nascente, a que aparentemente irá avançar, destruir 52 habitações. O tempo foi passando e o projecto, que deveria estar concluído em 2015, foi sendo adiado. Durante esse tempo, o concelho de Ponte de Lima, passou da previsão de apenas ver passar comboios para uma paragem técnica, agora há a previsão da construção de uma estação onde alguns comboios poderão parar. 


Uma estação


O caderno de encargos confirma a existência, como já escrevi acima, de uma estação em Ponte de Lima, provavelmente na freguesia de Brandara. Pelos que se vai lendo, o comboio de alta velocidade do Porto a Valença terá como velocidade máxima os 250 quilómetros hora, mesmo no limite mais reduzido para ser considerada uma linha de alta velocidade. Para a Infraestruturas de Portugal o objetivo é ligar o Porto a Vigo numa viagem de uma hora.

Será que este comboio é a resposta às necessidades de locomoção entre o nosso distrito, o de Braga e a cidade do Porto, onde tantos alto-minhotos trabalham e estudam?


Falta de liderança e visão


Lembro-me bem da minha primeira viagem de comboio. Foi com o meu avô Arlindo e  teve como destino a cidade do Porto. Dormi na sua casa para logo pela madrugada apanhar o autocarro para Viana do Castelo, onde apanhamos o comboio. Em Nine, mudamos de comboio, prosseguindo em direcção à cidade do Porto. A minha viagem com o meu avô foi em tudo idêntica à que ele fizera com o meu pai, 30 anos antes. Se hoje fizesse a viagem com um dos meus filhos, 40 anos depois da minha, a viagem seria, basicamente, a mesma e, provavelmente com a mesma duração. 

Infelizmente, na nossa região houve poucos políticos com vontade ou visão. Infelizmente nenhum, mesmo quando ascendeu a posições de relevância nos diferentes governos, teve a capacidade de liderar ou influenciar uma mudança nos transportes públicos no distrito de Viana do Castelo. O comboio de alta velocidade chegará à nossa região, serão, pelo menos, os preços praticados acessíveis para quem diariamente se desloca rumo a Braga ou ao Porto?

domingo, abril 14, 2024

Alto Minho, artigo de 11-04-2024

É urgente

Aqui há umas semanas escrevi sobre as obras e as consequentes mudanças de sentido do trânsito na vila de Ponte de Lima. Para os utilizadores diários já não era novidade, mas, com as referidas alterações e o aumento da pressão, passou a ser perceptível por todos a urgência em alargar a rua Conde de Aurora, entre a rua Agostinho José Taveira e o acesso ao cemitério da vila, bem como a construção de uma pequena rotunda no cruzamento entre as referidas ruas. 

A rua Conde de Aurora passou a ser uma das mais movimentadas da sede do concelho limiano. Devido à proliferação da construção, ao acesso às escolas, a uma grande superfície comercial e a uma cadeia de “fast food”, assumiu um papel central na distribuição do trânsito urbano vindo das freguesias da Correlhã e da vila de Arcozelo, que assim evitam a entrada no centro histórico. As infraestruturas urbanas devem acompanhar a evolução e pressão da construção urbanística, e aquela rua, naquele troço, ainda terá praticamente a mesma configuração do tempo em que ali apenas se iniciava o acesso ao cemitério municipal.


“Limianos, olé!”

Foto: Associação Desportiva "Os Limianos"


No ano passado, o clube mais representativo do concelho de Ponte de Lima subiu ao Campeonato Nacional. O objetivo da época, assumido pelo presidente da Associação Desportiva “Os Limianos”, era a da manutenção. Para alcançar esse objectivo, mudaram a equipa técnica, que muitos aproveitaram para polemizar, e renovaram a equipa. 

Se o arranque da época foi pausado, à medida que esta ia decorrendo, com passos decisivos e boas contratações, “Os Limianos” foram-se aproximando dos lugares cimeiros, conseguindo, bem antes do termino da época, a desejada manutenção. 

Chegados à última jornada, a equipa de Ponte de Lima liderava a tabela da série A, a série considerada por muitos como a mais competitiva do Campeonato de Portugal. Em Ribeirão, no último jogo da época regular, um jogo difícil, a equipa de Ponte de Lima, com um empate, garantiu a vitória do grupo, apurando-se para a fase de subida à Liga 3. 

O presidente da câmara, e bem, é da opinião de que o clube mais representativo do concelho deve militar nas ligas nacionais. Poderá, agora, estar à beira de um desafio ainda maior do que esperaria, mas que deverá mobilizar todos, a possibilidade de já na próxima época “Os Limianos” subirem a um patamar muito mais exigente em termos de necessidades estruturais.      


30 anos


Completaram-se na passada sexta-feira 30 anos que morreu um dos ícones musicais da minha geração, Kurt Cobain. Alguns comparam a sua influência com a do John Lennon na geração dos nossos pais. Talvez assim seja. A verdade é que há, realmente, um antes e um depois do aparecimento dos Nirvana, e a morte do seu vocalista, tal como a dos Beatles, foi um momento disruptivo.

As camisas de flanela, as sapatilhas de pano ou as botas gastas, eram a “farda” dos jovens de então. Quem da minha idade, que naqueles anos frequentava a Escola Secundária de Ponte de Lima, não se lembra do concurso de bandas de garagem na “semana aberta”? Todos queríamos fazer parte, de um modo ou de outro, do movimento “grunge” vindo de Seattle, no longínquo estado de  Washington, nos Estados Unidos da América.

Lembro-me de que ouvi e vi a notícia da morte de Cobain na velha televisão da sala de convívio da secundária. Não havia Internet nem as notícias estavam à distância de um clique, a incredulidade abateu-se e um silêncio estranho, contrário ao habitual zunido, apoderou-se daquele espaço. 

Passaram 30 anos, as roupas mudaram, os gostos também, mas bastam os primeiros acordes de guitarra seguidos da bateria de “Smells Like Teen Spirit” para, como que num qualquer reflexo, nos fazer abanar a cabeça e viajar no tempo. 

“Our little group it's always been
And always will until the end”.

domingo, abril 07, 2024

Alto Minho, artigo de 04-04-2024

Ad nauseam

Bem sei que teremos várias eleições. Foram as legislativas, teremos as europeias, e teremos as presidenciais, em 2026, mas as eleições autárquicas estão também à porta, realizam-se já em 2025.

Na verdade, falta quase um ano para que as listas estejam formadas e entregues e se saiba quem, na nossa comunidade, quer assumir responsabilidades autárquicas. Normalmente, nesta altura já se verificam movimentações, os partidos e movimentos já se mobilizam. Mas neste momento não se pressente nada ou quase nada. Por Ponte de Lima, por exemplo, nem se sabe se os que lideram a oposição, o movimento Ponte de Lima Minha Terra, se apresentarão a eleições. Já nem escrevo sobre os partidos tradicionais, como o PSD e o PS. Se no caso do primeiro, ainda se observa a solitária actividade do vereador, o segundo nem se sabe se de facto ainda existe no concelho.


Não sei se é, mas que parece…


Na passada semana, todos nós assistimos a uma série de categoria B. Se fosse apenas numa qualquer plataforma digital, não seria mau, o problema é que tem consequências na nossa vida e passou-se na Assembleia da Republica.

José Pedro Aguiar Branco, deputado eleito pelo nosso circulo eleitoral, foi indicado pelo PSD como candidato a Presidente da Assembleia da Republica. O líder parlamentar do PSD contactou e informou o PS, o Chega e a IL que esse seria o seu candidato e que os sociais-democratas iriam votar favoravelmente os vice-presidentes que esses partidos apresentassem. O líder do Chega apressou-se logo a anunciar um “acordo” e o seu voto favorável. O argumentário estava instalado. 

No dia seguinte, o nome de Aguiar Branco foi chumbado várias vezes. Ao longo do dia, fomos vendo o Chega a bracejar e a rasgar vestes em acusações e chantagens sobre o PSD que se entregara ao PS. O PS depois de acusar o PSD de que afinal o seu “não é não” era um “não é não a não ser que…”, acusava a direita de confusão e instabilidade.   

Depois de quase dois dias de impasse, Aguiar Branco lá foi eleito e os vice-presidentes propostos pelos referidos partidos também. 

O que se retira disto tudo é que hoje é perceptível um novo “partido” a que alguém apelidou de Shegalista. Um “partido” que não tem qualquer consideração pelas instituições ou pelo país, que parece perceber que estas atitudes tem consequências gravíssimas para a saúde da nossa democracia, mas, como na velha fábula do escorpião e da rã, “está na sua natureza” fazer tudo para que o centro direita não consiga estabilidade para governar. Nem que para isso “morra” a democracia. 


Serviço militar obrigatório


De repente, foi reintroduzido na ordem do dia o tema do Serviço Militar Obrigatório (SMO). Os políticos, com a guerra a voltar à Europa, acordaram para as necessidades militares do velho continente. Voltam-se a ouvir os velhos chavões da defesa dos valores, da dádiva à sociedade, da cidadania como justificação para a reintrodução da obrigatoriedade do SMO.

Mas só será possível desenvolver e despertar o interesse pela defesa dos valores de cidadania, da dádiva à comunidade e da defesa nacional ressuscitando o SMO? Não será isso apenas uma desculpa para conseguir “mão de obra” para uma estrutura militar que tem neste momento uma pirâmide interna de recursos humanos invertida?

O que é necessário é valorizar e criar uma verdadeira carreira militar que possa levar os jovens a equacionar essa carreira como um percurso profissional de futuro, que abra portas à formação académica e profissional e não só militar. O que não é possível é manter um exército de graduados sem praças, ou com praças sem possibilidade de carreira ao longo da vida. 

segunda-feira, abril 01, 2024

Alto Minho, artigo de 28-03-2024

Semana Santa


Esta é uma das semanas mais importantes para os católicos. Uma semana de tristeza? Sim, de certo modo, no entanto é bom lembrar que a semana termina com a Ressurreição e que, sem esta, nada teria sentido.

Aproveitando a Semana Santa, este ano, o Município de Ponte de Lima fez uma aposta grande na divulgação do património e tradições limianas. Em estreita colaboração com a paróquia de Santa Maria dos Anjos, sede do concelho, as cerimonias litúrgicas fundem-se com várias actividades culturais. Destaco a abertura de várias igrejas e capelas por todo o centro histórico, algumas das quais só neste altura se poderão visitar, pelo que afigura uma oportunidade imperdível. 

É bom quando os responsáveis políticos têm a capacidade de envolver a comunidade na preservação e divulgação das nossas tradições, sejam elas populares ou religiosas. Um exemplo a replicar.


Informação


Tem sido um calvário para os que vivem, trabalham e estudam no centro de Ponte de Lima. Obras no coração do centro histórico, na rua General Norton de Matos e Agostinho José Taveira, bloquearam o acesso ao centro, obrigando a alterações na circulação que levaram à concentração do fluxo de transito em duas ou três ruas. 

Já se sabe que para se fazerem obras são necessários sacrifícios. É preciso criar condições para se poder trabalhar sem problemas e também para quem tem de circular no espaço a intervir. Ao contrário do que era costume, a obra no centro histórico foi anunciada com alguma antecipação, foram preparadas alternativas, mudados sentidos de circulação, tudo para minimizar os constrangimentos. Até foi dada uma data prevista para o término das obras. Tiveram mesmo o cuidado de, ao fim de semana e dias de feira, dentro de algumas limitações, permitir a circulação “normal”. 

Infelizmente, já o mesmo não se pode dizer sobre a intervenção, penso que a cargo das Infra-estruturas de Portugal, numa das vias de maior movimento em Ponte de Lima, a Dom Pedro I (entre a rotunda da Feitosa e a de Nossa Senhora da Guia). Apesar da entrada principal do centro histórico da vila de Ponte de Lima estar bloqueada pela obra descrita anteriormente, as Infra-estruturas de Portugal resolveram, mesmo assim, avançar com a, tão necessária e por eles adiada, construção de uma rotunda de acesso a duas grandes superfícies. Uma obra que significa o corte intermitente do trânsito e que bloqueia uma das alternativas à entrada no centro histórico. Custaria muito “falar” com o município e programar para outra data? 

A coordenação das intervenções, a escolha de datas e o ajuste a horas que impliquem menor constrangimento à normal circulação das populações, deveria ser uma preocupação dos responsáveis.  


Quem vai ser o primeiro?


Acabado o período de campanha, e conhecidos os novos representantes, quem vai ser o primeiro a propor a abolição do pórtico do Neiva na A 28? Este foi um assunto em que todos, durante a campanha, foram consensuais, pelo que já não há desculpas. Da mesma forma que não existem desculpas para a inércia em que caiu o processo de criação de uma rede de transportes públicos na região. Uma rede interna, inter-modal, que permita a interacção com territórios vizinhos. 

É preciso passar das palavras aos actos. Quem vai ser o primeiro a dar o passo para passarmos à acção?

domingo, março 24, 2024

Alto Minho, artigo de 21-03-2024

Indignações nas redes sociais

Há umas semanas a indignação instalou-se nas redes sociais. A Câmara Municipal de Ponte de Lima estava a abater as frondosas árvores que ladeavam a avenida de São João, bem junto ao rio Lima. As teorias, como sempre, eram muitas e sempre no sentido de uma conspiração. Alguns preferiram realçar a falta de sensibilidade pelo abate de várias árvores. 

Confesso que me distancio, cada vez mais, das redes sociais. Da troca de ideias passou-se para a troca de acusações e, por incrível que pareça, o que tem maior visibilidade já não é a boa opinião ou a informação, mas a polémica e a falta de bom senso. Estas parecem ser as condicionantes que “despertam” o algoritmo que gere as redes. 

Mas voltemos ao assunto do abate das árvores. Será que alguém tentou perceber o motivo que levou a que responsáveis políticos, sempre tão zelosos em não perder as boas graças da opinião pública, assumissem o ónus de abater dezenas de árvores? Claro que não, é mais fácil criticar do que procurar saber o que estará por detrás de uma decisão considerada “politicamente incorreta”. A propósito da necessidade da substituição das árvores paralelas à avenida de São João, em Ponte de Lima, escrevi neste espaço, em 24 de Maio do ano passado, que “A decisão não é fácil, mas o que não se pode fazer é olhar para o lado como se nada se passasse e condenar os nossos concidadãos a terríveis momentos de muito má qualidade de vida.”. E porquê? Porque sempre que chegava a Primavera era notório o mal-estar e as queixas de centenas de pessoas que vivem ou trabalham em Ponte de Lima relativamente às nuvens de “algodão” que aquelas árvores espalhavam pelo centro histórico e que provocavam algum incómodo ou até problemas de saúde. 

Sim, as árvores foram, e bem, abatidas, aliás, nunca deveriam ter sido lá plantadas. Foram posterior e rapidamente substituídas por exemplares já bem desenvolvidos de outra espécie. Cabe aos gestores do espaço publico saber decidir que espécies arbóreas plantar em consonância com o bem-estar daqueles que usam e vivem naqueles espaços.

Neste caso, o Município de Ponte de Lima só pecou por não ter, desde logo, informado devidamente os munícipes. De resto, é para isso que elegemos representantes, para que decidam em prol da comunidade que servem. 


Obrigado!




Há duas semanas escrevi sobre uma experiência muito pessoal com o basquetebol no inicio dos anos 90, em Ponte de Lima. As conversas que advieram desse texto fizeram-me lembrar de uma pessoa que, embora não estivesse na parte visível, foi, e não apenas  para o basquetebol, fundamental para o desporto limiano durante as décadas de 80 e 90. 

José Barros, conhecido por Zé Pepe, foi um dos pilares que, discretamente, esteve sempre presente no desporto limiano. Desde as carrinhas, que emprestava para as deslocações das equipas, aos equipamentos. As designações “Pepe Pronto a Vestir” ou “Criações Tininha” estiveram em muitos fatos de treino e equipamentos de várias equipas e modalidades, a sua presença foi fundamental para o desenvolvimento desportivo de centenas de jovens atletas limianos. José Barros é um dos últimos exemplos da velha extirpe de comerciantes locais envolvidos profundamente no associativismo da sua comunidade.  

domingo, março 17, 2024

Alto Minho, artigo de 14-03-2024

Ressurreição

Estas eleições foram uma páscoa política para Eduardo Teixeira. Eleito deputado, não venceu no concelho de Valença por 33 votos. O Chega, tal como no país, passou a terceira força política do distrito, em alguns casos ficou a poucos votos do segundo partido mais votado, e em nenhum dos concelhos teve menos de 15% dos votos. As eleições autárquicas estão aí, sendo que, como escrevi no início de Fevereiro, Eduardo Teixeira “é conhecido pela sua persistência, por não saber parar ou recuar”, prevê-se que, com este empurrão, o Chega entre também na luta autárquica com capacidade para eleger em vários concelhos. 

Depois de perder a influência interna no PSD, que o deixava de fora das próximas eleições, Teixeira, com o Chega, volta a recuperar o protagonismo político que tanto procura.


A escolha dos candidatos importa


O PSD pode ter perdido a hipótese de eleger o terceiro deputado em Valença. Nesse concelho venceu a AD pelos já referidos 33 votos, mas, com a excepção de Paredes de Coura e de Vila Nova de Cerveira, onde perdeu, foi o concelho do distrito onde a AD teve a menor percentagem de votos e onde recuperou, face às eleições de 2022, menos votos. Uma má formação de listas pode resultar em perdas com consequências nacionais. 


Ironia


O PS passou estes últimos anos a “encostar” o PSD ao Chega, numa posição que lhe valeu o resultado em 2022. Ironicamente, com tanto “insuflar” do Chega, muitos dos deputados que este ganha são transferência direta dos deputados que o PS perde.

Há um facto que se deve realçar no resultado deste partido político, a sua capacidade de atração eleitoral perpassa todo o território. Esta é um factor que o faz diferente, mesmo comparativamente com outros partidos como o Bloco, a IL, o PAN ou o Livre, que são partidos com expressão muito limitada aos centros urbanos, nomeadamente de Lisboa e Porto.


Final


É dos últimos partidos comunistas da Europa Ocidental da velha guarda. Ainda presente com alguma força e capacidade de influência, desde o governo da geringonça a CDU (PCP - PEV) vem perdendo a sua capacidade eleitoral, sendo que em distritos do Alentejo os eleitores que votavam nesta coligação passaram a votar no Chega. 

Nestas eleições, o PCP e a sua CDU passou a ter uma representação minimalista. Será que estaremos perto do seu fim? No nosso distrito, por exemplo, no concelho de Ponte de Lima, até o ADN contou com mais votos que a CDU.


Palavra-chave


Esperemos que a palavra-chave a sair destas eleições seja “compromisso”. Com um governo minoritário, haverá capacidade para os lideres e eleitos dos partidos encontrarem pontes e abandonarem a política de “bolhas”? A construção de pontes não é apenas uma obrigação do governo, mas também dos que devem ser uma oposição responsável. 


Novos tempos


Sim, caro leitor, no domingo passado, entrámos numa nova era. Olhem bem para Espanha, França e Itália, que passam ou já passaram por esta mudança. Que caminho seguiremos? 

domingo, março 10, 2024

Alto Minho, artigo de 07-03-2024

Mais um dia de campanha

As campanhas são feitas “como de costume”: passeios pelas feiras, arruadas, bombos e concertinas, jantares. Significará isso mobilização popular? 

Durante os mandatos, os partidos vivem separados dos eleitores, não os ouvem, não promovem a sua participação e até olham de soslaio se algum os tenta chamar à razão. Quando chegam as campanhas eleitorais, já é tarde, os eleitores vivem vidas onde os partidos ou “movimentos” estão completamente ausentes, sem nada que os cative ou atraia para a participação. 

Há, no entanto, a necessidade dos partidos passarem uma “ideia” de “alegria”, de mobilização. Para isso agarram-se ao que conhecem, criando verdadeiras encenações a que o “povo” parece aderir. Reparem nas fotografias das campanhas dos diversos partidos, vejam como os sorrisos que por lá encontram são sempre os mesmos, seja a “feirar”, no jantar ou na falsa “arruada” a seguir os bombos e concertinas. Como o que se vê nas campanhas é uma realidade paralela, o resultado é o constante aumento da abstenção e dos votos nulos. Enquanto não se voltar a falar para as pessoas, sobre os problemas delas, enquanto não as envolverem nos processos de decisão, o resultado será sempre o do alheamento e desprezo. E quando assim é, o desfecho não é difícil de prever, a história dá-nos, infelizmente, muitos exemplos.         


Mais um clube nas competições nacionais


Sabia, caro leitor, que na próxima época poderemos ter mais uma equipa do distrito na I Divisão Nacional de Basquetebol? A tentar juntar-se ao Clube de Basquete de Viana, naquela que é a “Liga III” do basquetebol, o Basket Clube de Coura está neste momento a competir, na 2ª fase do Campeonato Nacional de Seniores de Basquetebol da II Divisão, pelo primeiro lugar e apuramento directo àquela liga. 

Torcemos para que, na próxima época, o Clube de Basquete de Viana consiga a promoção, que este ano parece lhe ter escapado, à Proliga (o equivalente à Liga II, no futebol), o Basket Clube de Coura  consolide a sua posição na I Divisão Nacional de Basquetebol e os CB Limiense e CB Valença consigam a subida à I Divisão Nacional de Basquetebol. 

Em tempo de campanha eleitoral, é bom lembrar aos políticos de que, apesar de tudo, no Alto Minho, também há quem faça milagres no desporto e que precisa de apoios para continuar a lutar para colocar a nossa região em patamares superiores no desporto.


Por falar em basquetebol



 

Ao escrever sobre basquetebol, sou logo remetido para o início dos anos 90. Nessa altura, falar de basquetebol em Ponte de Lima era o mesmo que falar da Escola Desportiva Limiana. Defendi as cores da EDL nessa modalidade. Recordo os meus companheiros, não podendo deixar de realçar o saudoso Márcio Patrício, que com o irmão Pedro Lima formava uma dupla de postes imbatível.

Passamos muitas horas no Pavilhão Municipal de Ponte de Lima a treinar com os nossos treinadores, um deles o professor Jorge Silva, para os jogos, se a memória não me falha, do campeonato distrital do Porto. Mas, para além desses treinos e jogos, do que me lembro com mais saudade é dos jogos de rua, aqueles que fazíamos entre o grupo da Feitosa e o de Arcozelo. A capacidade que tínhamos em construir tabelas com tábuas e transformar velhas latas de tinta em aros dos cestos! A minha casa e a rua junto à casa do Márcio, do Pedro e do Ruka Pereira transformavam-se nos nossos "L.A. Forum", então casa do LA Lakers, ou no United Center, casa dos Chicago Bulls. Foram jogos épicos, com muitos “afundanços” e luta corpo a corpo, num piso que transformava cada drible num desafio ao controlo de bola. O maior gozo era tentar replicar jogadas que víamos no programa de televisão “NBA it`s fantastic” e que, por vezes, para desespero dos treinadores, levávamos para os treinos e jogos oficiais. 

Hoje, em Ponte de Lima, existem vários espaços onde a pratica do basquetebol de rua seria possível, mas que, lamentavelmente, estão ao abandono. Felizmente, os tempos são outros, e não é necessário aproveitar desperdícios da construção para jogar, bastava aos nossos representantes investir meia dúzia de euros para dar nova vida àqueles espaços, permitindo criar memórias para a vida.