"Eu sou eu e minha circunstância, e se não a salvo a ela, não me salvo a mim"*
O PSD de Ponte de Lima entrou em processo conducente a eleições internas. Pedro Salvador, ex líder da bancada social democrata no mandato 2017 a 2021, em entrevista a este jornal, apresentou-se como candidato à presidência da concelhia com algumas criticas à situação do partido. O actual presidente, Filipe Amorim, quis replicar, também aqui, no Alto Minho. Ao invés de rebater os argumentos apresentados, preferiu fazer insinuações e comparações entre os resultados de 2017 e 2025. Esqueceu-se, no entanto, das circunstâncias que envolveram as duas eleições.
2010 a 2013
No rescaldo das eleições autárquicas de 2009, já no início de 2010, foram convocadas eleições internas no PSD limiano. Concorreram duas listas, uma liderada por Manuel Barros e outra liderada pelo então recém eleito vereador, Filipe Viana, que se recandidatava. Manuel Barros venceu por maioria absoluta. Alguns militantes, não aceitando a mudança escolhida pela larga maioria dos seus companheiros de partido, organizaram-se em torno do vereador num autoproclamado movimento que, de facção interna, se transformaria num movimento independente que viria a chamar-se Movimento 51.
Se o rosto da cisão foi o do então vereador, este teve o respaldo de alguns militantes que tinham tido responsabilidades nas autárquicas de 2009. Paulo Morais, que tinha sido cabeça de lista do PSD à Assembleia Municipal, José Nuno Vieira de Araújo, que, mais tarde, chegou a liderar a bancada da Assembleia Municipal do PSD e se viria a desfiliar do PSD, Manuel Laranjeira, antigo director da campanha autárquica de 2009, entre outros que passaram a ser presença assídua nos encontros públicos do M51 e no apoio e, até, na integração nas listas candidatas deste movimento às autárquicas de 2013 e , mais tarde, nas de 2017.
A participação de pessoas ligadas ao PSD nas actividades do M51 criou alguma confusão, dividindo o eleitorado social-democrata. Nessas eleições, embora perdendo 10% dos eleitores, o CDS perdeu apenas um vereador para o Movimento 51, que ficou em terceiro lugar, atrás do PSD.
2013 a 2017
Ultrapassando a divisão, o PSD uniu-se, começando a falar a uma só voz nos vários órgãos autárquicos. O que o vereador proponha no executivo municipal era o que a bancada do PSD defendia na Assembleia Municipal e era o que a Comissão Política local tornava público. As reuniões pelas freguesias foram uma constante. Vários dos assuntos levantados pelos eleitos sociais-democratas, em reuniões dos diferentes órgãos autárquicos, sairam precisamente das preocupações transmitidas nessas reuniões. O número de militantes foi crescendo, fruto da forma construtiva, firme e determinada da acção política do PSD e seus eleitos. As reuniões internas, realizadas em conformidade com os estatutos, eram bastante participadas e palco de discussões de assuntos relativos à realidade do concelho.
Quando foi necessário escolher o cabeça de lista à Câmara Municipal, o Plenário dos militantes, na altura liderado pelo actual líder do PSD local, Filipe Amorim, votou, numa sala cheia, com bastante participação, unanimemente e por aclamação a proposta da Comissão Política da recandidatura de Manuel Barros, na altura a exercer o cargo de vereador. Nessas autárquicas, apresentou-se a eleições, pela primeira vez, Abel Baptista. O movimento independente PLMT, embora com o apoio do PS, tinha na sua génese elementos ligados ao CDS. Iria dividir o eleitorado centrista? Na contagem de votos percebeu-se que a novidade do movimento de Abel Baptista afinal não retirará votos ao CDS, que manteve basicamente a mesma votação de 2013, mas a toda a oposição. O PSD perdeu cerca de 5% dos votos para a eleição do executivo municipal e cerca de 6% para a da Assembleia Municipal. A concentração de votos no PLMT elegeu 2 vereadores para essa força política. O PSD passou a terceira força eleitoral, ficando de fora do executivo municipal por uma centena de votos. Na Assembleia Municipal, passou de 8 para 5 membros. Já nas freguesias, conseguiu aumentar o número de eleitos e o de presidências das juntas, elegendo 4 em listas do PSD e uma como independente, com o apoio público do PSD.
Consequência
Apesar da subida de eleitos nas assembleias de freguesia e da conquista de 5 presidências de junta e de muitos dos independentes que participaram no processo autárquico pedirem para se filiar, a Comissão Política local não se escudou em desculpas nem empurrou para outros a responsabilidade, assumiu-a e antecipou as eleições internas não se recandidatando. Eleitos em 2018, em lista única, os lideres locais do PSD não tiveram a organização de grupos internos de oposição, não tiveram facções a criar movimentos nem tão pouco enfrentaram novos movimentos cívicos. Tiveram sempre a disponibilidade dos anteriores lideres, mas nunca precisaram dela. Geriram, durante 8 anos, como entenderam, trabalharam com quem quiseram. Tudo o que hoje o PSD é e, acima de tudo, o que não é, no concelho, é da sua inteira responsabilidade. Depois de todos estes anos, apesar do fim do M51 e do declínio do PLMT, o PSD continua a ser a terceira força autárquica. Tentarem menorizar os que apresentam outro caminho com comparações de circunstâncias completamente diferentes talvez seja o maior reflexo do vazio onde se chegou e da necessidade de mudar.
* Meditaciones del Quijote / José Ortega y Gasset