domingo, dezembro 14, 2025

Alto Minho, artigo de 11-12-2025

 "Eu sou eu e minha circunstância, e se não a salvo a ela, não me salvo a mim"*

O PSD de Ponte de Lima entrou em processo conducente a eleições internas.  Pedro Salvador, ex líder da bancada social democrata no mandato 2017 a 2021, em entrevista a este jornal, apresentou-se como candidato à presidência da concelhia com algumas criticas à situação do partido. O actual presidente, Filipe Amorim, quis replicar, também aqui, no Alto Minho. Ao invés de rebater os argumentos apresentados, preferiu fazer insinuações e comparações entre os resultados de 2017 e 2025. Esqueceu-se, no entanto, das circunstâncias que envolveram as duas eleições. 


2010 a 2013


No rescaldo das eleições autárquicas de 2009, já no início de 2010, foram convocadas eleições internas no PSD limiano. Concorreram duas listas, uma liderada por Manuel Barros e outra liderada pelo então recém eleito vereador, Filipe Viana, que se recandidatava. Manuel Barros venceu por maioria absoluta. Alguns militantes, não aceitando a mudança escolhida pela larga maioria dos seus companheiros de partido, organizaram-se em torno do vereador num autoproclamado movimento que, de facção interna, se transformaria num movimento independente que viria a chamar-se Movimento 51. 

Se o rosto da cisão foi o do então vereador, este teve o respaldo de alguns militantes que tinham tido responsabilidades nas autárquicas de 2009. Paulo Morais, que tinha sido cabeça de lista do PSD à Assembleia Municipal, José Nuno Vieira de Araújo, que, mais tarde, chegou a liderar a bancada da Assembleia Municipal do PSD e se viria a desfiliar do PSD, Manuel Laranjeira, antigo director da campanha autárquica de 2009, entre outros que passaram a ser presença assídua nos encontros públicos do M51 e no apoio e, até, na integração nas listas candidatas deste movimento às autárquicas de 2013 e , mais tarde, nas de 2017. 

A participação de pessoas ligadas ao PSD nas actividades do M51 criou alguma confusão, dividindo o eleitorado social-democrata. Nessas eleições, embora perdendo 10% dos eleitores, o CDS perdeu apenas um vereador para o Movimento 51, que ficou em terceiro lugar, atrás do PSD. 


2013 a 2017


Ultrapassando a divisão, o PSD uniu-se, começando a falar a uma só voz nos vários órgãos autárquicos. O que o vereador proponha no executivo municipal era o que a bancada do PSD defendia na Assembleia Municipal e era o que a Comissão Política local tornava público. As reuniões pelas freguesias foram uma constante. Vários dos assuntos levantados pelos eleitos sociais-democratas, em reuniões dos diferentes órgãos autárquicos, sairam precisamente das preocupações transmitidas nessas reuniões. O número de militantes foi crescendo, fruto da forma construtiva, firme e determinada da acção política do PSD e seus eleitos. As reuniões internas, realizadas em conformidade com os estatutos, eram bastante participadas e palco de  discussões de assuntos relativos à realidade do concelho.

Quando foi necessário escolher o cabeça de lista à Câmara Municipal, o Plenário dos militantes, na altura liderado pelo actual líder do PSD local, Filipe Amorim, votou, numa sala cheia, com bastante participação, unanimemente e por aclamação a proposta da Comissão Política da recandidatura de Manuel Barros, na altura a exercer o cargo de vereador. Nessas autárquicas, apresentou-se a eleições, pela primeira vez, Abel Baptista. O movimento independente PLMT, embora com o apoio do PS, tinha na sua génese elementos ligados ao CDS. Iria dividir o eleitorado centrista? Na contagem de votos percebeu-se que a novidade do movimento de Abel Baptista afinal não retirará votos ao CDS, que manteve basicamente a mesma votação de 2013, mas a toda a oposição. O PSD perdeu cerca de 5% dos votos para a eleição do executivo municipal e cerca de 6% para a da Assembleia Municipal. A concentração de votos no PLMT elegeu 2 vereadores para essa força política. O PSD passou a terceira força eleitoral, ficando de fora do executivo municipal por uma centena de votos. Na Assembleia Municipal, passou de 8 para 5 membros. Já nas freguesias, conseguiu aumentar o número de eleitos e o de presidências das juntas, elegendo 4 em listas do PSD e uma como independente, com o apoio público do PSD.  


Consequência

 

Apesar da subida de eleitos nas assembleias de freguesia e da conquista de 5 presidências de junta e de muitos dos independentes que participaram no processo autárquico pedirem para se filiar, a Comissão Política local não se escudou em desculpas nem empurrou para outros a responsabilidade, assumiu-a e antecipou as eleições internas não se recandidatando. Eleitos em 2018, em lista única, os lideres locais do PSD não tiveram a organização de grupos internos de oposição, não tiveram facções a criar movimentos nem tão pouco enfrentaram novos movimentos cívicos. Tiveram sempre a disponibilidade dos anteriores lideres, mas nunca precisaram dela. Geriram, durante 8 anos, como entenderam, trabalharam com quem quiseram. Tudo o que hoje o PSD é e, acima de tudo, o que não é, no concelho, é da sua inteira responsabilidade. Depois de todos estes anos, apesar do fim do M51 e do declínio do PLMT, o PSD continua a ser a terceira força autárquica. Tentarem menorizar os que apresentam outro caminho com comparações de circunstâncias completamente diferentes talvez seja o maior reflexo do vazio onde se chegou e da necessidade de mudar.


* Meditaciones del Quijote / José Ortega y Gasset 

domingo, dezembro 07, 2025

Alto Minho, artigo de 04-12-2025

 “(…) o PSD tem denunciado com veemência a falta de revisão do PDM em Ponte de Lima” 

A frase que dá título a este texto é retirada de um comunicado do vereador do PSD, José Nuno Araújo, de Abril de 2023. É apenas um exemplo. O tema tem sido uma bandeira do PSD, nos últimos anos, e o vereador o seu rosto. É, aliás, um dos únicos temas que se associa ao PSD e ao seu vereador.

Eis que, finalmente, na reunião do executivo do passado dia 25 de Novembro constava o ponto “Plano Diretor Municipal (2ª revisão)”. Depois de anos a pedir que este momento chegasse, o vereador do PSD, provavelmente com a anuência dos líderes concelhios, não compareceu na reunião, solicitando a sua substituição pelo elemento seguinte na lista. Filipe Lima, antigo presidente da Junta de Freguesia da Seara, actual membro e presidente da Assembleia de Freguesia da Seara, convocado, apresentou-se na reunião. É, no entanto, surpreendido pelo presidente da Autarquia que o informa de que, apesar de ter sido convocado, não poderá tomar assento na reunião enquanto vereador. O motivo? A lei. A Lei Orgânica nº1/2001 na alínea b) do ponto 1 do Artigo 221 é clara: “É incompatível, dentro da área do mesmo município, o exercício simultâneo de funções nos seguintes órgãos: b) Câmara Municipal e assembleia de freguesia”. Pelo que se pôde ler na notícia sobre a reunião de Câmara, Lima, surpreendido, terá contactado os serviços jurídicos do PSD que o informam sobre a existência de incompatibilidade. Pediu, de imediato, a suspensão de membro da Assembleia de Freguesia, mas, porque a reunião já decorria, não foi aceite a sua participação como vereador. Com isto tudo, pede a palavra como membro do público, a reunião é pública, mas é novamente surpreendido pelo Regimento da Câmara Municipal de Ponte de Lima que, no ponto 2 do artigo 10, afirma que “Os cidadãos interessados em intervir terão de fazer a sua inscrição no período compreendido entre "Período de Antes da Ordem do Dia" e a "Ordem do Dia””. Ora, como esse período já tinha sido ultrapassado, foi-lhe, ao abrigo do referido Regimento, negada a palavra.

Em reação a este insólito e desastrado caso, o vereador do PSD, José Nuno Araújo, divulga um comunicado onde afirma que o “PSD viu-se, assim, impedido de poder dar o seu contributo na reunião de Câmara, nos mais diversos pontos da Ordem do Dia, incluindo o da Revisão do PDM”. O vereador tem razão, mas, ao contrário do que insinua, esta situação resulta apenas e somente do erro grosseiro dele e de quem tem responsabilidades de liderar localmente o PSD. Erro por passar anos a pedir a discussão do PDM e, quando esta surge, pedir a substituição. Erro de quem lidera, por não se preparar dando aso a uma situação humilhante para todos os que depositaram o seu voto no PSD. 


Eleições internas


No inicio do próximo ano, o PSD limiano irá eleger os seus orgãos locais.


A importância do dia 25


Na passada semana, comemoraram-se os 50 anos do 25 de Novembro de 1975. Muitos aproveitaram esta data para promover a separação e a discórdia, fazendo comparações com o 25 de Abril de 1974. Para quê tanta perda de tempo? É simples, o 25 de Abril acabou com uma ditadura, o 25 de Novembro não permitiu a existência de outra.  

domingo, novembro 30, 2025

Alto Minho, artigo de 27-11-2025

Sozinhos

Mais de 1208 idosos vivem sozinhos ou isolados no nosso distrito, grande parte destes em “situação de vulnerabilidade”. Esta é uma informação que a GNR partilhou e que advém do balanço da operação “Censos Sénior 2025”. 

Muitos não irão perder muito tempo com esta temática. Provavelmente, nem terão consciência de que todos somos, num futuro mais ou menos próximo, candidatos a engrossar esse número. São vários os factores que contribuem para esta realidade. A falta de retaguarda familiar, seja qual for o motivo, a doença, a falta de meios financeiros.

O apoio aos idosos, num todo, as redes sociais de acompanhamento e acolhimento deveria ser um dos assuntos no topo da discussão política. Infelizmente, tendemos a pensar nisto quando já é tarde. Quando os políticos deixaram de o ser há muito, quando as redes se quebraram, quando o dinheiro, seja ele quanto for, deixar de conseguir comprar o que não tem preço. 

Agora que os autarcas, quase todos, já estão em plenas funções, é tempo de iniciarem um movimento no sentido de elevar este assunto a designo nacional. Sim, é necessária a solidariedade intergeracional. São precisas novas e mais profícuas políticas de apoio aos idosos. Aproveitemos o vasto conhecimento que várias instituições têm da realidade no terreno. As IPSS, instituições como as Misericórdias, que há séculos providenciam apoio social numa rede espalhada por todo o país. Não é coisa de partidos ou de gincana política, é algo que deve mobilizar todos os agentes até porque, como já escrevi mais acima, a tendência é de nós próprios engrossarmos essas estatísticas.   


Um dos “senadores” da “minha aldeia” partiu


Era um homem alto, que sobressaia com o seu porte, se o era nos dias de hoje, imaginem nos seus tempos de juventude. Era forte nas suas convicções, por vezes, até teimoso, frontal, monárquico e católico. Junto com a sua Dona Ester, criou uma família que tem um forte lastro de participação na vida religiosa na paróquia de Santa Marinha de Arcozelo (vila de Arcozelo, Ponte de Lima). 

A primeira ideia que me vem à cabeça, quando penso no Sr. Alípio Marinho, é a igreja de Santo António da Torre Velha, aquela que separa a velha ponte medieval da secular romana. Foi responsável por essa igreja e pela Irmandade de Santo António, nela erigida, durante vários anos. Era ele que ajudava à missa e assegurava que a igreja estava preparada, quando, ainda por lá, se celebrava a Eucaristia todos os domingos e dias da semana. O tempo, essa máquina voraz, foi passando e, quando percebeu que era necessário dar o lugar na gestão e direcção da Irmandade de Santo António, incentivou-me a candidatar-me ao cargo de Juiz. Foi com muita honra que, eleito pelos irmãos, o sucedi. Durante os anos que exerci essa função pude contar sempre com a sua ajuda e conselho. O Sr. Alípio Marinho partiu na passada semana com 93 anos.


domingo, novembro 23, 2025

Alto Minho, artigo de 20-11-2025

 É difícil 

Tive a sorte de crescer num ambiente politizado. Decorriam os anos 70, 80 e 90 do século passado. À minha volta, várias pessoas tinham participação política activa, nos partidos e nas associações, como eleitos autárquicos ou membros de outros órgãos locais e nacionais. Tive sempre contacto com a responsabilidade que é a representação dos concidadãos, e, talvez também por sorte, todos os meus próximos com essas responsabilidades foram bons exemplos no exercício dos seus deveres. Não tive dificuldades em aceder à informação, tive acesso a livros, sempre com a consciência de que, se não os tivesse em casa, encontrá-los-ia na biblioteca municipal. Os bons exemplos e a informação estiveram sempre, mesmo sem Internet, ao meu alcance. Desse crescimento resultou a minha perspectiva da política como um imperativo cívico, um serviço à comunidade, com balizas éticas bem definidas.

Confesso que é difícil perceber a justificação para as pessoas, que cresceram no mesmo tempo e mesmo espaço geográfico, com as mesmas possibilidades, não terem a mesma visão do que é serviço, do que é eticamente aceitável, do que é estar ao serviço da sua comunidade. É por isso que não consigo tolerar os que colocam à frente dos seus concidadãos, naquilo que deveria ser o exercício do serviço publico, os seus interesses privados, a “vã gloria de mandar”, o seu orgulho ou sei lá mais o quê. 

 

A saga continua


Pela vila de Arcozelo, os episódios rocambolescos da eleição dos vogais da Junta de Freguesia adensam-se. Saídos de uma eleição, onde os eleitores deram a vitória a uma lista, mas repartiram os mandatos por forma a que nenhuma força tivesse a maioria absoluta, depois dos esforços de toda a oposição para que existisse um consenso entre todas as forças políticas para a governação estável da freguesia, o presidente eleito optou por colocar o seu ego à frente dos interesses coletivos. De reunião em reunião, foi “arranjando” subterfúgios como tentar forçar a eleição dos nomes por si propostos, com interpretações estapafúrdias dos votos contra da maioria dos eleitos, ou suspensões abruptas de reuniões, para impedir o normal funcionamento dos órgãos autárquicos. Chegou-se a um ponto em que os membros da Assembleia de Freguesia, 60% dos membros eleitos, tiveram de se ausentar da reunião, deixando de existir quorum, porque lhes queriam impor uma forma de votar que não permitia a opção de votar contra.  

Ao não querer aderir a um entendimento alargado entre as forças presentes na assembleia, o presidente eleito provocou um impasse. Resta-lhe as seguintes saídas políticas. Percebe que, em democracia, nem sempre o que queremos é o que obtemos da maioria e aceita o proposto pela oposição, de governo tripartido liderado, obviamente, por ele. Renuncia ao mandato e permite o segundo da sua lista desbloquear o processo. Fica em gestão corrente, limitadíssimo na acção, prejudicando e bloqueando a freguesia. Ou, como não quer consensos, inicia o processo conducente a eleições intercalares e deixa os eleitores decidirem. Há só uma pessoa com capacidade para decidir o passo seguinte, consequentemente o único responsável e culpado dos resultados dessa decisão, o presidente eleito. 

Obviamente que o ideal, para a vila de Arcozelo, era a adesão do presidente eleito ao consenso alargado proposto pela oposição. Não o querendo e porque ceder o lugar ao seu segundo será opção fora de equação, entre ficar em gestão corrente ou eleições intercalares, não restam dúvidas de que o caminho para a repetição de eleições é o melhor para a freguesia. Entra, assim, em jogo um novo “player”, a Câmara Municipal e a sua capacidade de influência. Se houve um vencedor em Arcozelo, foi Vasco Ferraz. Obteve cerca de mais 12% de votos que a lista mais votada para a Assembleia de Freguesia. Provavelmente foi aqui que conseguiu eleger mais um vereador, é também por isso que tem uma responsabilidade acrescida para que o processo autárquico da maior freguesia do concelho desbloqueie. Na actual situação, não haverá nada melhor do que pedir aos arcozelenses para desfazerem o nó entretanto criado.

domingo, novembro 16, 2025

Alto Minho, artigo de 13-11-2025

Olhar para o estado da arte

A Associação de Futebol de Viana do Castelo anunciou um projecto inovador para a região, um investimento que dará origem à Academia de Futebol da Associação de Futebol de Viana do Castelo. 

Há, no entanto, algo que a Associação não pode descurar, o estado dos campos de jogos onde alguns clubes trabalham. Veja-se o caso concreto do Areosense, no concelho de Viana do Castelo, a meia dúzia de quilómetros da futura Academia. Apesar dos esforços e do trabalho que realiza na formação, o clube joga num antiquado “pelado”. Não há outro campo na formação, nos campeonatos de formação do distrito, em situação idêntica. A Associação deveria, se ainda não o fez, exercer a sua influência junto do poder político para melhorar as condições de trabalho deste clube. Estão em causa, principalmente, crianças e jovens que vestem aquela camisola, mas não só, estão também os atletas dos clubes visitantes, muitos vindos de outra ponta do distrito, que, num campo com condições tão precárias, não conseguem pôr em prática o que aprendem. Mas não se pense que, lá pelos outros clubes terem relvados sintéticos, todo o trabalho está feito. A Associação de Futebol tem vindo, e bem, a promover várias acções de formação em diversas áreas, mas será necessário promover uma formação especifica na área da manutenção dos campos. Muitos, por exemplo, nunca foram escovados, e a rega é mínima ou nem é feita. É preciso ter noção que a falta de manutenção aumenta a probabilidade de ocorrências de graves lesões para os atletas. 

É de louvar o esforço da Associação de Futebol de Viana em olhar para o futuro, mas tem, também, a obrigação, que não é de menor importância, em olhar para o estado da arte. É necessário lutar para ter condições e para ter os meios para que essas condições perdurem. Pela dinâmica que o novo presidente já demonstrou, certamente estará disponível para ser parceiro dos clubes nessa luta. 


Odores


Quem cresceu numa carpintaria conhece bem o odor que emana da madeira. Sabe como este penetra no nariz à medida que a plaina exerce a sua função nas pranchas. É um cheiro que retenho da minha infância, os pipos a erguerem-se, os moveis a formarem-se, o barco a ser construído, o serrim e as raspas a acumularem-se no chão. 

Os cheiros da nossa infância acompanham-nos pela vida. Sem contar, numa esquina, algures no mundo, somos surpreendidos com um odor familiar. Procuramos, por vezes discretamente, e lá encontramos uma pequena oficina de restauro, ou uma pequena carpintaria perdida nas ruas, hoje pouco habitadas, de uma qualquer cidade ou vila. 

Por Ponte de Lima, na vila de Arcozelo, no bairro da Além da Ponte, em Trás-os-palheiros, no início da rua que leva a Faldejães, encontra-se esse odor a madeira. É a oficina “Restauro à Sexta” do Sr. Martins “Sexta” que o emana. É o último dos artesãos da madeira da nossa “aldeia” e o mais “internacional” dos seus habitantes, todos os dias tira fotografias com peregrinos do Caminho de Santiago, assinalando a sua passagem. 

domingo, novembro 09, 2025

Alto Minho, artigo de 06-11-2025

Entrevista e declarações

Os novos protagonistas autárquicos e os repetentes têm dado entrevistas à comunicação social. Recentemente, li a entrevista ao presidente da câmara de Ponte de Lima, Vasco Ferraz, bem como as declarações que fez sobre a CIM Alto Minho. A afirmação dentro da Comunidade Intermunicipal continua na agenda de Ferraz. Fez bem sublinhar as suas linhas vermelhas para o apoio à alteração da liderança na CIM. Embora com a natural solidariedade entre concelhos, fez saber que esta deve ser recíproca. Obviamente que é uma forma de pressão, não acredito que o edil limiano dê a mão a quem, no fundo, o levou à demissão dos órgãos anteriores, mas é preciso que os outros responsáveis políticos olhem para o concelho limiano com o respeito devido ao segundo maior concelho do distrito. 

Já na entrevista que Vasco Ferraz deu aqui ao Alto Minho, refere dois novos projectos impactantes, a Casa do Conhecimento e a Escola das Artes de Ponte de Lima. Foi, no entanto, notória a falta de referência a um projecto que até já deveria estar em andamento, o da construção de um novo estádio municipal no actual campo municipal do Triunfo. Não só pelo trabalho que tem sido feito pela Associação Desportiva “Os Limianos”, quer na formação quer no desempenho desportivo da sua equipa principal, mas também pelas oportunidades que esse novo complexo desportivo poderá criar em termos de atractividade de promoção, o Mundial 2030 está aí, literalmente, à porta com jogos no Dragão e na Galiza. Espera-se que, embora tenha ficado de fora dos temas abordados na entrevista, o projecto apresentado no início de 2024 não morra e que rapidamente se torne uma realidade. 


Homens à altura das circunstâncias


No distrito, ao contrário de outras autárquicas, existem várias situações em que os eleitos nas assembleias de freguesias não se entendem para a constituição dos executivos. Para alguns, parece ser difícil perceber, depois das comemorações na noite eleitoral, que, apesar da sua vitória, o voto popular ditou que terão de partilhar o poder com outras forças políticas. Há quem perceba o funcionamento da democracia, mas outros há que se entrincheiram em vãs questões de ego ou de interesses comezinhos.  

Veja-se o caso da maior freguesia do concelho de Ponte de Lima, a vila de Arcozelo. O presidente da junta foi reeleito, mas, desta feita, sem maioria. A oposição quer trabalhar e, para o bem da freguesia e o bom funcionamento das instituições, propôs um executivo tripartido. Ao invés de aproveitar a oportunidade e de demonstrar estar à altura dos acontecimentos, o presidente eleito agiu como se mantivesse a maioria e não aceitou o repto. Resultado? Viu a sua proposta de executivo reprovada e, de forma intempestiva, sem dar justificações e sem adiantar quando esta retomaria, suspendeu a reunião. Quem perde com esta atitude imponderada é a freguesia e os seus fregueses. 

Esta até nem é uma situação inédita na freguesia de Arcozelo e até com a mesma distribuição de mandatos. Há mais de duas décadas, Manuel Soares, eleito sem maioria pelo PS, teve a grandeza democrática de constituir um executivo tripartido com Manuel Fernandes, eleito pelo PSD, e Manuel Moreira, eleito pelo PCP, ficando, ainda, o grupo independente com um eleito na assembleia. O mandato ficaria conhecido pelo “o dos três Maneis”. Nenhum deles ficou “ferido” politicamente e ainda hoje são lembrados por serem os mentores e dinamizadores da elevação a vila de Arcozelo. A diferença de ontem para hoje são os protagonistas, No passado, souberam estar à altura das circunstâncias, e os de hoje, estarão? Já agora, em Maio deste ano, quando Manuel Soares faleceu, a Junta de Freguesia, liderada pelo actual presidente reeleito, publicou um comunicado onde afirmava que este era “um exemplo e uma inspiração para todos”, será uma boa altura para o ter como exemplo e inspiração.


Elevador social


Recentemente, numa tomada de posse de um executivo municipal, discretamente uma senhora assistia visivelmente comovida. Sentia-se o orgulho nos seus olhos. O seu filho tomava posse como presidente da câmara onde ela há muitos anos exercia funções de limpeza. Ao contrário do que por vezes ouvimos vociferar por aí, a democracia não falhou.

domingo, novembro 02, 2025

Alto Minho, artigo de 23-10-2025

Autárquicas 2025

Como combinado na semana passada, hoje vamos “falar” das autárquicas. Gostou dos resultados? Sempre surgiram algumas surpresas. 


Grandes vencedores no Distrito


Olegário Gonçalves, para além de ter sido eleito presidente da Câmara de Arcos de Valdevez, com 58.67% dos votos, enquanto presidente da distrital do PSD, viu os sociais-democratas conquistarem os concelhos de Melgaço e de Caminha. Com cinco municípios laranja e um centrista, a liderança da CIM Alto Minho muda de mãos. 

Albano Domingues pôs fim a 43 anos de liderança socialista no município de Melgaço. 

Liliana Silva, que durante anos lutou persistentemente pela mudança, conseguiu conquistar o concelho de Caminha.

Luís Nobre, por ter conseguido atrair os votos mais à esquerda do PS, manteve a liderança, por maioria absoluta, do executivo municipal de Viana do Castelo.

Augusto Marinho, quando muitos vaticinavam a sua derrota, lutou contra um dinossauro do PS barquense e aumentou a sua maioria. Conquistando mais um vereador, provou que os dinossauros já se extinguiram há muito.  


Grandes perdedores no Distrito


Vítor Pereira, líder da distrital do PS, para além de perder os concelhos de Caminha e Melgaço, vê a votação do PS diminuir substancialmente nos dois concelhos em que a estrutura apostou fortemente, Ponte da Barca e Arcos de Valdevez. 

Eduardo Teixeira, embora com a expectável subida de votação do partido de André Ventura, no concelho de Viana do Castelo, não conseguiu atingir o objectivo de retirar a maioria ao PS, nem de ficar em segundo lugar e, muito menos, de vencer. A nível distrital, não foi além do quinto lugar, com excepção de Viana do Castelo, o objectivo de eleger vereadores também ficou por alcançar.

Rui Lage deixou escapar a liderança socialista da câmara de Caminha. 

Vassalo Abreu, por seu lado, não percebeu que, como se pode ler na bíblia, em Eclesiastes 3 “tudo tem o seu tempo”.


Por Ponte de Lima


Por terras limianas, há apenas um vencedor, Vasco Ferraz. Consolidou a maioria absoluta na Câmara Municipal, conquistou mais um vereador, aumentou e assegurou a maioria dos mandatos na Assembleia Municipal e, entre independentes por si apoiados e listas próprias, domina a quase totalidade das Assembleias de Freguesia. Não poderia ter corrido melhor para o CDS limiano.

O PLMT perdeu votação, numa transferência que parece direta para o CDS. Perdeu um vereador e membros na Assembleia Municipal, conquistou a Assembleia de freguesia de Brandara, perdendo, no entanto, a maioria na Assembleia de freguesia de Refoios. Quando muitos vaticinavam o seu desaparecimento, Zita Fernandes, conseguiu, no entanto, manter o movimento como a segunda força política na Câmara Municipal. Sobreviverá a mais quatro anos? 

O PSD conseguiu vencer novamente em quatro Assembleias de Freguesia, perdeu Rebordões de Souto, mas conquistou Rebordões de Santa Maria. Márcio Magalhães conseguiu a reeleição na Assembleia de Freguesia de Arca e Ponte de Lima, por maioria absoluta. Já a freguesia da Seara, apesar da mudança de ciclo, manteve o predomínio maioritariamente laranja. Os resultados têm, no entanto, um travo amargo para os sociais-democratas. Com o fim do Movimento 51, o PSD absorveu naturalmente o seu eleitorado, mas, apesar do aumento de votação, não conquistou mais vereadores, não travou o crescimento generalizado do CDS e ainda ficou atrás, na Câmara Municipal, do fragilizado PLMT. Quanto tempo é que José Nuno Araújo aguentará até ceder o lugar de vereador a Filipe Lima?  

O PS, apesar do abandono das estruturas distritais, da “traição” do seu ex-líder (que liderou uma lista independente apoiada pelo CDS a uma freguesia), conseguiu passar a fasquia psicológica dos mil votos na votação para a Câmara Municipal e eleger dois membros para a Assembleia Municipal. Com um longo caminho para percorrer, poderá ter encontrado as bases para a caminhada. 

A IL atingiu o objectivo a que se propôs na apresentação da sua candidatura, elegeu um membro para a Assembleia Municipal. Veremos o que esse lugar poderá significar para o crescimento da IL em Ponte de Lima. 

O PCP-PEV continua no caminho do esvaziamento eleitoral. “In extremis” conseguiu manter um eleito na Assembleia Municipal. É inegável o contínuo e progressivo declínio eleitoral do PCP limiano.   

A grande divisão do eleitorado em Ponte de Lima é entre o CDS e a oposição como um todo. Enquanto esta continua num género de “baralha e dá de novo”, dividindo os eleitores consoante os movimentos independentes e partidos que aparecem e desaparecem, o CDS, com pequenas oscilações, vai consolidando o eleitorado.     

domingo, outubro 19, 2025

Alto Minho, artigo de 16-10-2025

Ainda não

No momento que escrevo, ainda se desconhecem os resultados da noite eleitoral, mas o leitor, que lê esta crónica dias depois, já conhece o desfecho. O que achou dos resultados, surpreenderam?

Para a semana, voltaremos a este tema.


Até quando?


Num domingo, enquanto assistia a um jogo de futebol de iniciados (sub15 B),  na bancada, pais e avós davam exemplo do que não deve ser o desporto. Insultos, gritos, ameaças, atitudes que, provavelmente, esses cidadãos reprovariam na sua vida quotidiana. Que exemplo querem dar aos seus miúdos? Como reagirão eles, no decorrer do jogo, com os colegas da equipa contrária ou com os árbitros? 

Foi um árbitro, em formação, com os seus 16 ou 17 anos, que tomou conta da situação mantendo-se, pelo menos aparentemente, sereno e impermeável à pressão. Por sorte, a equipa adversária não entrou no “jogo”, manteve uma atitude de desportivismo, de foco no que é importante naquela idade (e não só), aprender em contexto de jogo. 


Passos para mudar o paradigma


Ainda bem que há quem reme contra a maré. A Associação de Futebol de Viana do Castelo está a organizar treinos de observação de guarda-redes. Tem como objectivo permitir aos guarda-redes sub14, de todos os clubes que queiram participar, uma experiência diferente de treino e partilhar o balneário com os colegas dos outros clubes. Esta é uma das mais difíceis, especificas e, muitas das vezes, menorizada, posições do futebol. Se, como muitos dizem, uma equipa é uma família, os guarda-redes criam, pela sua especificidade, uma subfamília. 

Esta iniciativa permite criar laços, conhecer diferentes realidades, perceber que há muito mais a unir que a separá-los. Contribuirá, também, para esclarecer que atitudes como a que assisti naquele domingo não fazem qualquer sentido. Num jogo, o colega com que treinaram é adversário, não é inimigo. Fora das linhas de jogo até pode ser seu amigo, seu colega, sendo como for, tem de ser tratado com respeito. 

Estas iniciativas, para além da componente da evolução técnica que proporcionam aos jovens atletas, são, também, oportunidades para ajudar a mudar o clima crispado que afasta as pessoas das bancadas.     


domingo, outubro 12, 2025

Alto Minho, artigo de 09-10-2025

Expectativas autárquicas

No nosso distrito a noite eleitoral não será monótona. Se, em alguns concelhos, não se prevêem mudanças, noutros estas serão inevitáveis e, em alguns destes, os resultados são uma incógnita. 

É com curiosidade que se esperam os resultados no concelho de Viana do Castelo, no momento em que escrevo não se conseguem prever. Só este facto já representa, de alguma maneira, uma vitória para os partidos da oposição. Há muito que não partiam para as eleições com o “élan” da possibilidade de vitória. O PS de Nobre deverá, no entanto, vencer. Será, provavelmente, sem maioria, e enfrentará uma oposição reforçada, no entanto dividida entre o PSD e o CHEGA. Qual destes ficará em primeiro? Eis outra resposta que só se conhecerá no final da noite eleitoral de Viana do Castelo. 

O concelho de Caminha é daqueles onde poderá acontecer a mudança de cor do executivo. O PSD apostou tudo na vitória, até o líder nacional participou na campanha. Será que o concelho da foz do Minho volta a ser liderado por uma mulher?  

Por Ponte de Lima, não se esperam grandes mudanças. Tudo indica que o CDS irá reforçar a maioria absoluta que não lhe foge desde meados da década de 90 do século passado. Falta saber, no entanto, de que forma essa maioria absoluta influenciará a distribuição de vereadores. Conseguirá o CDS passar de quatro para cinco, vereadores espreitando o sexto? E quem passará a liderar a oposição, o PSD ou o movimento PLMT?  


Convicções?


Já escrevi sobre este tema e considero que, embora para alguns pareça ser insignificante, neste período eleitoral, deve ser realçado. Sem qualquer problema político, ético ou ideológico, há os que não hesitam em passar diretamente de eleitos de um partido/movimento a candidatos, por vezes ao mesmo órgão, por outro partido/movimento. Independentemente das responsabilidades e funções que tiveram no passado, passam a defender as cores do “novo” partido/movimento sem qualquer objeção e com a  mesma “convicção” com que anteriormente defendiam o de origem. Nem as máscaras, que alguns colocam de “independentes”, conseguem disfarçar a falta de verticalidade ideológica e política. Ainda para mais, quando hoje, com as redes sociais, alguns deixam um rastro de profundas críticas, feitas, em alguns casos, há poucas semanas, aos partidos que agora usam como “manta” para se candidatarem.

Mas a responsabilidade não é só desses protagonistas. Os partidos que os acolhem, como se esta atitude fosse natural, também são responsáveis. Os supostos benefícios eleitorais não deveriam sobrepor-se à verticalidade. Infelizmente, não é coisa de um só partido. Se o leitor observar os panfletos,   que colocam na sua caixa do correio, com as listas aos diferentes órgãos, rapidamente comprovará que é algo comum à quase totalidade. 

Mas as pessoas não podem mudar, evoluir no seu pensamento? Claro que sim, mas tem de existir um tempo de recolhimento, de, digamos, luto. Um tempo que permitirá perceber que o que move aquele protagonista não é apenas a procura de poder, de protagonismo, a busca do interesse particular. Um tempo que permitirá perceber que o que levou à mudança de pensamento foi a dolorosa (sim, estes não são processos fáceis) alteração das suas convicções.    

domingo, outubro 05, 2025

Alto Minho, artigo de 02-10-2025

É estranho

Todos os partidos e movimentos se esforçam para dar a conhecer os seus candidatos, as suas propostas, as suas ideias. Todos… menos o PS limiano. 

A actual liderança foi presenteada com uma casa completamente armadilhada. A anterior optou por deixar de apoiar o movimento Ponte de Lima Minha Terra, mas nada fez para preparar as candidaturas socialistas. O PS limiano foi destruído por ambições e falta de um projecto para o concelho. Sem projecto, sem estrutura, sem pessoas, os candidatos socialistas que se apresentam a estas eleições, no fundo, sacrificam-se para que o partido tenha uma representação no boletim de voto. A distrital socialista, no mínimo, deveria ajudar na promoção da candidatura, não só com o apoio financeiro, mas também logístico. Será o mínimo para quem teve a coragem de “agarrar” o partido no estado comatoso em que se encontra, a não ser que o PS já se tenha conformado com o seu desaparecimento em Ponte de Lima.


Será?


Nas páginas do Alto Minho, no início dos anos 2000, escrevi várias vezes sobre a biblioteca municipal de Ponte de Lima. Apontei a necessidade de um novo edifício na zona das escolas. Com a decisão de deslocalização da EB1, defendi a edificação, nesse local, de um edifício que projectasse e alargasse o âmbito da biblioteca municipal por forma a que este serviço se  transformasse num centro de informação. O então responsável pela cultura, Franclim Sousa, depois de um tempo em que defendeu outro caminho, foi ao encontro dessa ideia e, em 2008, deu nota da possibilidade da construção de um novo edifício aproveitando aquele espaço. Nesse mesmo ano, o Orçamento e Plano Municipal contemplou a elaboração do projecto e construção “da nova Biblioteca Municipal, que será um espaço com acentuada polivalência na prestação e disponibilização de serviços com a designação de Centro de informação e do Conhecimento”. Infelizmente, o vereador deixou a equipa nas eleições de 2009, o projecto ficou na “gaveta”. Várias vezes abordei o assunto nas reuniões da Assembleia Municipal, não consegui, no entanto, sensibilizar os responsáveis municipais. 

Já havia alguns rumores, mas agora foi tornado público que há realmente a intenção de avançar com um projecto ainda mais abrangente que o inicial. Vasco Ferraz pretende edificar no espaço da antiga EB1 a Casa do Conhecimento. Um Centro de Informação Local que junta a Biblioteca e o Arquivo municipais, bem como outras valências culturais do município. É uma decisão arrojada que promove a cultura de todo o concelho. Já agora, na nova edificação, salvaguardem o mural de cerâmica que os últimos alunos da EB1 deixaram para a posteridade. 


Talvez um pouco de nostalgia


Com as redes sociais invadidas pelas publicações das candidaturas, as recordações avolumam-se. Lembro-me do longínquo ano de 2009, quando, de forma pioneira na região, se fizeram vídeos de campanha para o Youtube, ou de como, em 2013, se promoveu um debate, nas redes sociais, entre os seguidores da página e o, então, candidato a presidente da Câmara, ou, ainda, como em 2017 já se produziam vídeos, curtos, para as redes sociais sobre vários temas e propostas, provocando a discussão de temas que estavam arredados da discussão política.

Não estou com saudades da política activa, partidária ou eletiva, afastei-me por minha opção, mas continuo a pensar que a participação política é um dever, a opinião, um direito, a participação na vida política em órgãos eleitos ou partidos, uma opção. Tudo tem um tempo.